Santuário do Senhor Santo Cristo celebrou Solenidade de Cristo Rei

Reitor, cónego Manuel Carlos Alves, presidiu à celebração e destacou o “olhar salvador de Cristo”

 

O Santuário do Senhor Santo Cristo dos Milagres assinalou este domingo a Solenidade de Cristo Rei, numa celebração presidida pelo reitor, cónego Manuel Carlos Alves, que centrou a sua homilia na dimensão universal da salvação oferecida por Jesus.

O sacerdote recordou que, na cruz, Jesus cumpriu o projeto de Deus: salvar a humanidade dando a sua própria vida”, sublinhando que essa salvação não se limita ao ser humano, mas estende-se a todo o universo, ainda hoje marcado pelo egoísmo e pelo consumismo.

O que consumimos e adquirimos tem um peso enorme até na própria criação”, alertou.

Ao meditar diante da imagem do Senhor Santo Cristo, o reitor evocou o exemplo de uma mulher que, ao olhar para os olhos da imagem, se sentiu acolhida por Deus e percebeu a necessidade de que esse olhar misericordioso estivesse acessível a todos. Por isso, expressou a sua gratidão a quem, ao longo da história, permitiu que o santuário mantivesse as suas portas abertas.

Recordando momentos de tribulação vividos pelo povo e pelos devotos, o cónego Manuel Carlos Alves fez referência à expressão tradicional dos favores divinos, evocando também a experiência de Madre Teresa D´Anunciada. Apesar das dificuldades dentro do convento, da falta de meios e da falta de compreensão até das próprias autoridades eclesiásticas, ela nunca desistiu da missão de fazer com que o Filho de Deus fosse amado por todos. Que este seja também o nosso propósito: seguir este este Senhor”, que “nos ama loucamente”.

A Solenidade de Cristo Rei encerra o ano litúrgico e, para os devotos do Senhor Santo Cristo, representa um momento de renovação espiritual e de compromisso com os valores do Evangelho. Esta é uma das três festas assinaladas especialmente no Santuário.

Depois da Eucaristia, os fiéis foram convidados a participar na cerimónia de recolocação da imagem de madre Teresa D´Anunciada esculpida por Alda Raposo, no Páteo da Roda, para que esteja sempre visível aos fiéis e continue a inspirar a oração de todos.

Nascida em 1658, na ilha de São Miguel, Teresa da Anunciada ingressou ainda jovem no Convento da Esperança, em Ponta Delgada, onde se tornaria uma figura de grande influência espiritual. Foi lá que, já como religiosa, assumiu um papel decisivo na valorização e organização das devoções em torno da imagem do Ecce Homo, promovendo a primeira grande procissão em 1700 e estabelecendo práticas que perdurariam nos séculos seguintes.

Madre Teresa da Anunciada faleceu a 16 de maio de 1738, deixando um legado que marcou profundamente a religiosidade micaelense e que viria a ultrapassar as fronteiras dos Açores, tornando a festa do Senhor Santo Cristo dos Milagres um evento de referência nacional e internacional.

O seu legado, profundamente ligado ao culto do Senhor Santo Cristo dos Milagres, está hoje no centro de um processo de beatificação que avança com renovado interesse e devoção popular. A sua fama de santidade, porém, não se limita ao impacto institucional que deixou. Já durante a sua vida era vista como mulher de profunda oração, prudência e caridade, conhecida por aconselhar os mais pobres, mediar conflitos e dedicar grande parte do seu tempo à intercessão pelos necessitados. Após a sua morte, multiplicaram-se relatos de graças atribuídas à sua intervenção espiritual, alimentando uma devoção espontânea que resistiu ao tempo e que continua viva entre a população micaelense.

É precisamente essa fama de santidade constante, sólida e transmitida de geração em geração, que sustenta o processo de beatificação desejado por tantos e que há menos de um mês sofreu um impulso importante com a nomeação da Comissão Histórica que irá validar as fontes históricas subjacentes ao processo.

Scroll to Top