Madre Teresa D’Anunciada

Em 25 de novembro de 1658, no próprio dia do seu nascimento ou pouco depois, na igreja da Ribeira Seca da Ribeira Grande é batizada como “Teresa” a última dos treze filhos de Jerónimo Ledo Paiva, natural dessa mesma freguesia e arrendatário de terras, e de Dona Maria do Rego Quintanilha, natural da vila do Nordeste; ambos provêm de famílias honradas mas dispõem de modestos recursos económicos, situação que piorará em 1666 com a morte de Jerónimo.

A menina, conhecida também como “Teresa de Jesus”, cresce em ambiente de grande religiosidade e acompanhando sempre a mãe nas orações, na devoção mariana, na confiança total nos desígnios protetores de Deus, na missa diária, na frequência da confissão, na romaria diária descalça e, por vezes, em curtas peregrinações. Sente uma especial alegria em exercer a caridade, tal como em andar de joelhos no quintal invocando Deus e em se mortificar às ocultas com jejuns e cilícios.

Em jovem recusa casar, apesar da insistência de um irmão que lhe encontra um potencial marido disposto a não receber dote. Embora o seu desejo seja tornar-se religiosa, o facto de a mãe afirmar que nunca prescindirá da sua companhia impede-a de o concretizar antes do falecimento desta, ocorrido no início de 1681. Teresa de Jesus e a sua irmã Joana de Santo António passam então  a residir em Ponta Delgada, em casa de familiar, e a frequentar a igreja e os parlatórios do vizinho Mosteiro de Nossa Senhora da Esperança, da Ordem de Santa Clara. Joana empenha-se, com sucesso, em obter rapidamente para a sua irmã a aceitação dessas freiras em recebê-la, a autorização do Provincial franciscano e o compromisso formal de um irmão em como dará à comunidade religiosa o imprescindível dote caso ela venha a professar; depois deste último documento, datado de 26 de novembro de 1681, Teresa já pode ingressar no convento na categoria de “pupila”, em lugar supranumerário. Como, porém, não há ainda vaga no ano de aprendizagem denominado “noviciado”, opta por aguardar em casa, evitando assim o pagamento ao mosteiro de uma quantidade fixa de trigo e dinheiro para os seus alimentos durante esse tempo de espera se lá estivesse.

Finalmente, em 20 de junho de 1682 Teresa entra para o Convento da Esperança. Um cortejo solene e festivo, onde se incorporam familiares, frades e pessoas de várias categorias sociais, acompanha-a com música desde a vizinha igreja de Nossa Senhora da Conceição, do convento dos Franciscanos, enquanto os sinos repicam. Após a missa na igreja da Esperança, a que as Clarissas assistem por trás das grades do coro alto, o cortejo leva-a até à Porta Regral, por onde Teresa passa para se juntar às freiras enclausuradas que a recebem cantando.

Concluído o noviciado, com a aprovação em exame sobre a doutrina e a Regra, a afirmação da sua vontade de ser Clarissa, a votação favorável das religiosas, a autorização superior do Provincial, e a entrega do dote prometido, em 23 de junho de 1683 Teresa de Jesus professa os votos solenes de pobreza, obediência e castidade vividas em clausura perpétua e escolhe passar a chamar-se “Teresa da Anunciada”, em sinal de gratidão para com o Provincial, frei Francisco da Anunciada Sales.

Pouco tempo depois da profissão, a atenção da nova freira é despertada por Joana de Santo António, durante as visitas que lhe faz, para uma imagem de busto de Jesus Cristo em tamanho natural, no passo “Ecce Homo”, com um rosto especialmente expressivo e segurando na mão uma espiga de cana, em substituição do cetro real, e nos ombros uma capa a servir de manto, com as mãos amarradas à frente e tendo no peito uma abertura tapada com uma estampa em papel. É dito a ambas as irmãs que este Santo Cristo fora inicialmente um sacrário (hoje pensa-se que seria só relicário de uma pequenina parte do Santo Lenho). Por insistência de Joana, que considera que a imagem tem poderes miraculosos, Teresa começa a dedicar-se a dar-lhe uma visibilidade condigna com a importância de ser uma representação de Deus no momento da Paixão e de ter sido sacrário, associando assim a morte, a ressurreição e a eucaristia.

Esta atividade de Teresa da Anunciada virá a constituir a sua grande missão ao longo dos cinquenta e cinco anos da sua vida de consagrada. Sentindo-a como vontade de Deus, que lhe permite ir ultrapassando os numerosos obstáculos que vão surgindo, irá conseguindo, sequencialmente, alumiar permanentemente o busto, a mudança deste para um local melhor, a construção de uma capela própria mas visível pelos fiéis leigos (de modo a que esta devoção cristológica se torne uma prática generalizada a todos os crentes), o embelezamento e enriquecimento dos símbolos da realeza divina graças a jóias criadas com esmolas e doações, a edificação de uma grande capela do Senhor Santo Cristo em substituição da primeira, a generalização à cidade de Ponta Delgada e à ilha de São Miguel do culto a Deus associado a esta imagem, e a realização de procissões solicitadas e organizadas pela sociedade civil.

Teresa sente ter com Deus, a quem chama “o meu Fidalgo” e “o meu Tudo”, uma comunicação muito próxima, por meio de uma voz interior, que se torna ainda mais forte em ocasiões de recolhimento espiritual: quando ora junto ao busto do Senhor Santo Cristo; por vezes, durante o sono; ao meditar na Paixão; durante a missa; e, acima de tudo, quando comunga, o que faz com muita frequência. Por este motivo, os seus confessores ordenam-lhe que escreva uma autobiografia, que vão lendo e autorizando, para divulgação dos prodígios e maior glória do Santo Cristo, precisamente o que ela entende ser a vontade do seu “Fidalgo”.

A Madre Teresa da Anunciada morre em 16 de maio de 1738, com 79 anos. Considerada, já em vida, como intercessora em curas e casos milagrosos, logo em 1740 se iniciaram dois processos (um franciscano e um diocesano) tendentes à sua santificação, ainda não concretizada. Em ambos abundam os testemunhos que a caracterizam como pessoa de muita fé, humildade, determinação, caridade, persistência mesmo em circunstâncias adversas, e sempre exemplar em vida e costumes.

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