O legado da Madre Teresa “estruturou a nossa própria identidade” afirma reitor do Santuário do Senhor Santo Cristo

Foto: Azulejo alusivo ao nascimento de Madre Teresa

Assinalam-se hoje 286 anos da morte da religiosa responsável pelo impulsionar do culto ao Senhor Santo Cristo dos Milagres

O legado de Madre Teresa D´Anunciada é “importante” porque “estrutura a nossa identidade” e qualquer manifestação de fé em torno do Senhor Santo Cristo dos Milagres “é testemunho da presença de Deus entre os homens”, afirmou o reitor do Santuário do Senhor Santo Cristo dos Milagres, na homilia da Missa desta manhã na Igreja de Nossa Senhora da Esperança, que teve por especial intenção a memória da religiosa que impulsionou o culto ao Senhor Santo Cristo.

A religiosa clarissa, natural da Ribeira Seca da Ribeira Grande, faleceu há 286 anos, no dia 16 de maio de 1738, depois de ter dedicado a maior parte da sua vida a venerar esta imagem que hoje é uma das mais “amadas” pelos Açorianos, naquela que é a expressão máxima da sua fé.

“Foi o Senhor Santo Cristo que inspirou a sua vida, foi a ele que ela se dedicou e assim devemos ser,  não porque tenhamos a mesma função dela, mas porque este legado é importante” disse o cónego Manuel Carlos Alves.

“Acabou por estruturar a nossa própria identidade e qualquer manifestação de fé em torno do Senhor Santo Cristo é também testemunho da presença de Deus entre os homens, do seu amor que transforma e da sua promessa de salvação para todos” esclareceu ainda.

“Recordando a Madre Teresa D´Anunciada, procuremos ir ao encontro da unidade” explicitou ainda a propósito da liturgia deste dia que convoca a humanidade a uma “unidade perfeita”, como a Santíssima Trindade.

“Apesar das divisões que vemos na Igreja e nas nossas famílias e na nossa vida quotidiana, em que dá a impressão de que apesar do Evangelho que professamos e daquilo que Jesus nos ensina, continuamos a olhar para os lados e a querer ser melhores ou superiores porque sabemos mais ou porque temos mais, é importante que tenhamos presente esta ideia de unidade”, disse o sacerdote.

“Devemos caminhar com todos e sempre que alguma divisão se aloje no nosso coração, devemos caminhar na unidade; a unidade do coração, porque Jesus nos ensinou a amar de forma perfeita, sem limites e sem condições”.

A Madre Teresa D´ Anunciada nasceu a 25 de novembro de 1658, e foi a última dos treze filhos de Jerónimo Ledo Paiva e de Dona Maria do Rego Quintanilha, natural da vila do Nordeste.

A menina, conhecida também como “Teresa de Jesus”, cresce em ambiente de grande religiosidade e acompanhando sempre a mãe nas orações, na devoção mariana, na confiança total nos desígnios protetores de Deus, na missa diária, na frequência da confissão, na romaria diária descalça e, por vezes, em curtas peregrinações. Sente uma especial alegria em exercer a caridade, tal como em andar de joelhos no quintal invocando Deus e em se mortificar às ocultas com jejuns e cilícios.

Em jovem recusa casar, apesar da insistência de um irmão que lhe encontra um potencial marido disposto a não receber dote. Embora o seu desejo seja tornar-se religiosa, o facto de a mãe afirmar que nunca prescindirá da sua companhia impede-a de o concretizar antes do falecimento desta, ocorrido no início de 1681.

Em 20 de junho de 1682 Teresa entra para o Convento da Esperança. Um cortejo solene e festivo, onde se incorporam familiares, frades e pessoas de várias categorias sociais, acompanha-a com música desde a vizinha igreja de Nossa Senhora da Conceição, do convento dos Franciscanos, enquanto os sinos repicam.

Concluído o noviciado, com a aprovação em exame sobre a doutrina e a Regra, a afirmação da sua vontade de ser Clarissa, a votação favorável das religiosas, a autorização superior do Provincial, e a entrega do dote prometido, em 23 de junho de 1683 Teresa de Jesus professa os votos solenes de pobreza, obediência e castidade vividas em clausura perpétua e escolhe passar a chamar-se “Teresa da Anunciada”, em sinal de gratidão para com o Provincial, frei Francisco da Anunciada Sales.

Pouco tempo depois da profissão, a atenção da nova freira é despertada por Joana de Santo António, durante as visitas que lhe faz, para uma imagem de busto de Jesus Cristo em tamanho natural, no passo “Ecce Homo”, com um rosto especialmente expressivo e segurando na mão uma espiga de cana, em substituição do cetro real, e nos ombros uma capa a servir de manto, com as mãos amarradas à frente e tendo no peito uma abertura tapada com uma estampa em papel.

Teresa começa a dedicar-se a dar-lhe uma visibilidade condigna com a importância de ser uma representação de Deus no momento da Paixão e de ter sido sacrário, associando assim a morte, a ressurreição e a eucaristia.

Esta atividade de Teresa da Anunciada virá a constituir a sua grande missão ao longo dos cinquenta e cinco anos da sua vida de consagrada.

Sentindo-a como vontade de Deus, que lhe permite ir ultrapassando os numerosos obstáculos que vão surgindo, irá conseguindo, sequencialmente, alumiar permanentemente o busto, a mudança deste para um local melhor, a construção de uma capela própria mas visível pelos fiéis leigos (de modo a que esta devoção cristológica se torne uma prática generalizada a todos os crentes), o embelezamento e enriquecimento dos símbolos da realeza divina graças a jóias criadas com esmolas e doações, a edificação de uma grande capela do Senhor Santo Cristo em substituição da primeira, a generalização à cidade de Ponta Delgada e à ilha de São Miguel do culto a Deus associado a esta imagem, e a realização de procissões solicitadas e organizadas pela sociedade civil.

Teresa sente ter com Deus, a quem chama “o meu Fidalgo” e “o meu Tudo”, uma comunicação muito próxima, por meio de uma voz interior, que se torna ainda mais forte em ocasiões de recolhimento espiritual: quando ora junto ao busto do Senhor Santo Cristo; por vezes, durante o sono; ao meditar na Paixão; durante a missa; e, acima de tudo, quando comunga, o que faz com muita frequência. Por este motivo, os seus confessores ordenam-lhe que escreva uma autobiografia, que vão lendo e autorizando, para divulgação dos prodígios e maior glória do Santo Cristo, precisamente o que ela entende ser a vontade do seu “Fidalgo”.

A Madre Teresa da Anunciada morre em 16 de maio de 1738, com 79 anos. Considerada, já em vida, como intercessora em curas e casos milagrosos, logo em 1740 se iniciaram dois processos (um franciscano e um diocesano) tendentes à sua santificação, ainda não concretizada.

Em ambos abundam os testemunhos que a caracterizam como pessoa de muita fé, humildade, determinação, caridade, persistência mesmo em circunstâncias adversas, e sempre exemplar em vida e costumes.

Mais informação em www.senhorsantocristo.com

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