Padre José Frazão Correia, pregador do tríduo, refletiu sobre o olhar desta Imagem de Jesus, no passo do Ecce Homo, tão venerada nos Açores
Arrancou esta tarde, em Ponta Delgada, o primeiro ato celebrativo da festa em honra do Senhor Santo Cristo dos Milagres de 2024, com um apelo do padre José Frazão Correia a todos os peregrinos para se deixarem ver e tocar pelo Senhor.
“Esta experiência de sermos vistos” pode “facilitar um salto espiritual na nossa fé” disse o sacerdote jesuíta, pregador convidado para as reflexões do tríduo preparatório das maiores festas religiosas organizadas pela Igreja nos Açores.
“O que me tocou mais foi a capacidade que esta representação tem de nos ver; a força desta representação que se venera aqui é o seu olhar: ela olha-nos” afirmou, salientando que a conversão acontece justamente quando nos deixamos ver e nos sentimos vistos.
“Seria talvez, o modo de viver bem esta festa: olhar para esta imagem, desejando que ela nos olhe. Como se a Imagem dissesse o nome de cada um de nós” frisou.
A partir do encontro entre Tomé e Jesus, narrado no Evangelho de São João, o pregador centrou a reflexão no olhar, porventura um dos aspectos mais relevantes e belos da escultura do Senhor Santo Cristo dos Milagres, relatando a sua própria experiência no primeiro contacto que teve com esta imagem, que representa Jesus na Sua Paixão.
“Quando nós hoje nos reconhecemos olhados por Ele alguma coisa tem de acontecer. No fundo quando Ele nos olha o que é que Ele nos diz? Seguramente virá ao de cima a verdade do que nós somos: serão muitos sofrimentos, desejos, serão momentos de energia, de dor, desespero, angústia, desespero… não sei. Apenas sei que quando Ele nos olha e nos toca alguma coisa se transforma”.
O sacerdote, que é o atual diretor da revista Brotéria, editada pela Companhia de Jesus em Portugal, desafiou assim os peregrinos a transformarem uma experiência de fé exterior, por vezes ocasional- “umas vezes vimos, outras não”- numa mudança interior.
“Talvez nem sempre nos tenhamos deixado ver pelo Senhor; talvez ainda não permitimos que Ele olhasse para nós, que Ele nos tocasse no fundo do fundo, onde somos o que somos, onde somos verdadeiros, no melhor e no pior, na inovação e na miséria” afirmou ao salientar que Ele nos toca pela Sua paixão mas também pelo Seu amor.
“É um toque tangível, porque a vida é isto: percorremos as cidades, as ruas, alguns pegam em velas e outros vão de joelhos. É uma experiência física de querer ser tocado” afirmou ainda.
“Imaginemo-nos diante deste Senhor Santo Cristo, deste Jesus apaixonado, deste Senhor marcado pela Sua paixão e deixemos que Ele nos devolva o seu olhar, que Ele nos olhe, nos toque e nos transforme como fez com Tomé, porque quando este amor nos toca poderemos ser agentes deste mesmo amor junto dos outros”, concluiu.
O Reitor do Santuário do Senhor Santo Cristo, o cónego Manuel Carlos Alves, no ínicio da concelebração a que presidiu, saudou todos os peregrinos dando as boas-vindas e lembrou “que a procissão começa a aproximar-se do adro”.
É o primeiro ano que preside ao Santuário e, por isso, as primeiras festas que organiza.
No dia da sua apresentação, lembrou que a “Igreja é para todos. Todos são convidados a participar na festa, todos são chamados a prestar a sua homenagem ao Senhor Santo Cristo dos Milagres, porque importa que todos caminhamos juntos e com empenho na construção do mundo melhor”, disse o cónego Manuel Carlos Alves, na conferência de imprensa de apresentação da festa.
O reitor do Santuário do Santo Cristo dos Milagres pediu que juntos, “com a alegria de uma festa”, também manifestem “respeito” pelos devotos que vão cumprir as promessas e que prestem “auxílio possível a estas pessoas nessas circunstâncias”.
Do programa deste ano o destaque vai para a celebração de uma missa em inglês, às 8h00, no dia 5 de maio, domingo, na Igreja de São José.
Desde esta segunda-feira que começaram a chegar ofertas de flores ao Santuário e o número de peregrinos já está a aumentar, verificando-se isso na missa matutina diária, às 8h00. Esta missa manter-se-á durante toda a semana.
Na Sexta-feira, dia 3 de maio, haverá missa às 8h00, 9h00 e 11h00, sendo que esta celebração será presidida pelo bispo de Angra, D. Armando Esteves Domingues e terá lugar na Igreja de São José. É, também, nesta Igreja que decorrerá a Vigília com jovens à meia noite de sábado, seguido de uma reflexão sobre a paz, orientada pelo Vigário Episcopal do Clero e Formação, que é o assistente diocesano da Comissão Justiça e Paz, seguindo-se uma oração pelas vocações orientada por seminaristas.
No domingo a imagem sairá da Igreja de São José às 9h15 e às 9h30 haverá a missa campal presidida pelo bispo de Stockton, D. Myron Cotta, com transmissão em direto no canal 1 da RTP, na RTP Açores e RTP Internacional. Esta missa será cantada pelo Coral de São José. Já a banda filarmónica convidada é a Banda Recreio dos Artistas, de Angra. A Capa que vestirá a Imagem foi oferecida por uma família de Santa Bárbara e será estreada.
A festa decorre até dia 9 de maio.