QUEM FOI TERESA DE JESUS?
“Madre Teresa d’Anunciada – a eleita de Cristo para manifestar-nos o Seu amor”
Ribeira Seca da Ribeira Grande, 25 de Novembro de 1658.

Neste dia glorioso para Jerónimo Ledo Paiva e D. Maria do Rego Quintanilha, nascia e era baptizada a pequena Teresa de Jesus, (nome escolhido em homenagem a Santa Teresa de Jesus), aquela que, colocando-se confiadamente nas mãos de Deus e pelo seu grande amor e devoção a Jesus Cristo, viria a ser a grande impulsionadora do culto ao Senhor Santo Cristo dos Milagres – Madre Teresa d´Anunciada, o instrumento que o Senhor utilizou para mostrar o Seu amor para com os Homens, através do mistério pascal – Paixão, Morte, Ressurreição.
A infância de Teresa de Jesus, vivida num ambiente familiar de grande religiosidade e de uma educação recebida nos preceitos da religião cristã, contribuíram para que esta criança evidenciasse, desde cedo, uma grande tendência religiosa. Era frequente encontrá-la no quintal da sua casa, onde se refugiava numa pequena gruta, ou entre os canaviais, de joelhos, rezando, a chamar por Nosso Senhor e pela Sua Santíssima Mãe, demonstrando já uma necessidade de se refugiar em Deus, buscando, na oração, o alimento da alma.
Por esta filha tinha sua mãe um carinho muito especial, que a educou, a orientou para amar, louvar e servir a Deus, incutindo-lhe os princípios da Religião Cristã e prática das virtudes, pois dizia-lhe muitas vezes que havia de ser muito afortunada.
Era notável a sua piedade e caridade para com os mais pobres e necessitados, que lhe batiam à porta em busca de alimento e a quem tratava com o maior desvelo e delicadeza. Teresa costumava dizer: através dos pobres e de suas bênçãos sou ajudada por Deus, pois sou uma miserável. Isto demonstra a sua humildade e o quanto era sensível e delicado o seu coração. Desta forma, na infância, exercitava o seu coração nas obras de misericórdia.
Estando Teresa em idade adulta, não era da vontade de seu irmão mais velho, Brás do Rego Quintanilha, que fosse freira, não estando interessado em colaborar com as despesas para o dote. Insistia que contraísse matrimónio o mais depressa possível, com um moço rico, que dispensava o dote de casamento. A situação financeira da família agravara-se com a morte do pai, pelo que um casamento com um pretendente de posses, seria bem-vindo. Mas a vontade de Teresa era ser freira. Sabia que a sua missão era outra e que só a Ele escolheria como esposo! “Lutou” contra esta vontade familiar, chegando a declarar a sua mãe que poria termo à vida, se esse desejo se concretizasse. Como era grande o seu amor a Cristo!
Após a morte da mãe, senhora muito piedosa e temente a Deus, Teresa sentiu-se só. Foi D. Joana de Santo António, sua irmã de sangue, sua mestra, sua companheira no espírito e o seu maior amparo, quem se empenhou em recolher Teresa num Mosteiro. Na sua família, alguns dos seus irmãos e sobrinhas, seguiram a vida religiosa e Teresa não foi excepção. Ao obter a patente e por indicação da Madre Abadessa, tomou o nome de Teresa da Nunciada, em homenagem ao seu Provincial, Frei Francisco da Nunciada Sales. A sua entrada no Convento da Esperança deu-se em Novembro de 1681, como pupila. Como ela refere na sua autobiografia: entrei para o paraíso da religião – o convento. Em 20 de Junho de 1682, tomou o véu de noviça e finalmente, no dia 23 de Julho de 1683, fez os votos perpétuos.
Já no Convento, a sua maior dificuldade era conseguir o dote e este não era mais do que trezentos mil reis. Foi então que o seu Provincial escreveu para Lisboa, no mês de Dezembro, a Manuel do Rego Quintanilha, pedindo-lhe se queria dotar sua irmã Teresa. Mas o tempo passava e a resposta, que tardava, só chegou no dia de Páscoa, pelo que todos julgaram não estar de acordo. Com este mesmo fim, também a Madre Ana da Glória escreveu a Manuel do Rego a pedir o dote.
Porém, Teresa e sua irmã Joana nesta aflição, não desanimaram porque tinham posto a sua esperança no Senhor, que não desampara os que Nele confiam.
E a resposta que tantos ansiavam surgiu da forma mais extraordinária e admirável. O seu irmão, Braz do Rego Quintanilha, aquele irmão que desaprovava a vontade Teresa em ser freira e que tanto fez para que contraísse matrimónio, estava resoluto em lhe dar o dote, por conta de seu irmão Manuel do Rego. Ao mesmo tempo, este irmão, embora mais tarde, acabou também por dotar Teresa, assim como a Madre Ana da Glória, que contribuiu com cinquenta mil reis das suas rendas. A este propósito referiu Madre Teresa, “…é que sendo tão pobre, em pouco espaço de tempo, me fez rica de esmolas”.
Com a entrada no Mosteiro da Esperança, onde começa a sua grande caminhada, Teresa demonstra, desde cedo, uma imensa devoção por Jesus Cristo, honrando a imagem do Senhor, exposta no passo do “Ecce Homo”. Grande era também o seu amor e devoção ao Divino Espírito Santo e a Nossa Senhora, e sobretudo o seu amor à Eucaristia.
No Convento continuou com a sua missão de ajuda aos pobres, atendendo todos que a ela recorriam em horas de aflição. A sua humildade, de que foi exemplo vivo, é a sua maior virtude. Nunca se envaideceu pelas muitas graças recebidas do Senhor. Quando de Deus recebia alguma graça, e foram muitas, nada atribuía a si própria, por se achar indigna de tal merecimento, pessoa sem valor – “És o meu tudo, e eu sou o Teu nada”.
A devoção de Madre Teresa pelo Senhor Santo Cristo deve-se a sua irmã, Joana de Santo António, que lhe fez notar o quanto aquela Imagem era milagrosa, necessitando de ser cuidada e alumiada. Teresa tomou a seu cargo esta tarefa para o resto da vida, o que muito contribuiu para aumentar a sua fé e devoção.
Cuidava do Seu culto, embelezando a Sua capela, honrando e dignificando a bela e expressiva imagem do Senhor. Madre Teresa desde criança, sempre se impressionou com o sofrimento e humilhação de Cristo, pelo que passou toda a sua vida a desagravá-Lo de tão grande ultraje. É disto exemplo as jóias preciosas que simbolizam a realeza de Cristo – o Resplendor, o Relicário, o Ceptro, as Cordas e a Coroa de Espinhos – símbolos da Paixão e Morte de Cristo.
Sendo pouco letrada, nunca constituiu impedimento para que relatasse os acontecimentos da sua vida e os prodígios do Senhor Santo Cristo – “Busquei a ti tão pobre de tudo para instrumento do meu culto”.
Para além duma vida de penitência, de espírito de sacrifício e de mortificação, Madre Teresa tinha na oração e contemplação, uma profunda intimidade com Deus, o que muito contribuiu para a sua santidade. Obstinada, forte e invencível, convicta de que cumpria as ordens do seu Divino Esposo, passava longas horas de vigília em oração, junto à Imagem do Senhor Santo Cristo, recebendo do Seu Senhor os Seus desejos, as Suas ordens.
De inteligência superior, a sua forte personalidade contrastava com a alma nobre e distinta.
Teresa lutou para vencer. Muitas vezes incompreendida, sofria em silêncio, porque tinha na oração, o fortalecimento para enfrentar os perigos da vida que a rodeava, as dificuldades que eram imensas, o sofrimento e sobretudo, a indolência da natureza humana! A tudo resistiu, por vezes contente por padecer em serviço do Senhor e porque nada a demoveu da forte vontade de viver com Cristo e para Cristo, que fez de si a Sua Serva para nos transmitir o Seu amor.
Meses antes da sua morte, com setenta e nove anos, padeceu Teresa de grave doença com excessivas dores e aflições, que lhe retiravam as forças e lhe enfraqueciam o corpo. Porém, tudo suportou com amor, resignação, paciência e exemplar sofrimento, testemunhos da sua santidade.

Quando raiou a madrugada de sexta-feira, às 6 horas do dia 16 de Maio de 1738, dia dedicado ao Senhor e de tanta devoção, a Venerável Madre Teresa d´Anunciada, de olhos postos no quadro do ECCE HOMO, num verdadeiro acto de piedade e amor a Deus, entregava, serenamente, o seu espírito, a sua alma ao Criador.
Os restos mortais da Venerável Madre Teresa d´Anunciada, encontram-se depositados numa urna, lateral ao altar de Cristo, na Capela, perto do Seu Senhor.
Que maior legado poderá alguém deixar-nos senão – O Seu Exemplo De Vida, O Seu Amor Ao Senhor – Este Senhor Santo Cristo Dos Milagres, Que A Todos Nos Cativa!
A grande missão que Deus incumbiu à Sua Serva, continua hoje bem viva – acreditar que tudo o que vem de Deus é bom, deve ser cumprido, mesmo sendo necessário vencer as dificuldades.
Rezemos para que Madre Teresa, esta virtuosa discípula de Santa Clara de Assis, possa um dia ter a honra dos altares. Mas o milagre, aquele que a levará aos altares, tarda em acontecer.
Até lá, e enquanto isso não acontece, que seja Santa no coração de todos nós.
Curvemo-nos perante a sua memória!

Reprodução do quadro que pertenceu a D. Margarida Francisca Tomásia de Lorena, (1707-1785), mulher de D. José Rodrigo da Câmara (1712-1757), 4º Conde da Ribeira Grande e 13º Donatário da Ilha de S. Miguel (Açores).
A Condessa da Ribeira Grande era grande admiradora das virtudes e santidade da Madre Teresa da Anunciada. Depois da morte desta obteve um retrato pelo que lhe fora feito quando estava na essa, o qual veio a servir em 1763 ao famoso Carpinetti para abrir uma chapa de cobre para a gravura que se publicou na 1ª edição do livro que o Padre José Clemente escreveu sobre a vida daquela Freira.
A Madre Teresa da Anunciada está de joelhos diante do altar e da Imagem do Senhor Santo Cristo, na segunda capela que mandou erigir. Este é o único documento pictórico que ficou daquela capela, que foi demolida para, no seu lugar, se começar a construir, em 1769, a actual.
O Santuário do Senhor Santo Cristo dos Milagres, agradece, em sua memória, ao Senhor João Bruno Raposo, pela concepção e desenvolvimento deste site, à Senhora D. Flávia Machado, professora aposentada, pela sua disponibilidade em nos acompanhar na Ribeira Seca e à família Janeiro Arruda, actuais proprietários da Casa de Madre Teresa d´Anunciada, que muito gentilmente nos receberam e permitiram a obtenção e publicação das fotos do interior da residência.
A todos o nosso muito obrigado!