VENERÁVEL MADRE FRANCISCA DO LIVRAMENTO

Na vida conventual do Mosteiro da Esperança, professaram religiosas, que pela sua vida dedicada ao Senhor, morreram com fama de santidade. Foi o caso de Madre Francisca do Livramento, que em toda a sua vida de clausura, foi o exemplo vivo de virtude e devoção, buscando sempre a Deus, conduzindo-a ao mais alto cargo, o de Abadessa.
O Reverendíssimo Padre, Frei Manuel de São Luís, seu confessor durante muitos anos, descreve a vida desta religiosa, numa obra intitulada “Instruções morais e ascéticas deduzidas da vida, e morte da Venerável Madre Francisca do Livramento, Abadessa que foi no Mosteiro de Nossa Senhora da Esperança da Cidade de Ponta Delgada, Ilha de S. Miguel, oferecidas a todas as Religiosas Clarissas”, publicada no ano de MDCCXXXI (1731).
A este volume, com a vida de Madre Francisca do Livramento, segue-se um segundo volume, com instruções morais e ascéticas para as Clarissas, igualmente da autoria de Frei Manuel de São Luís.
QUEM FOI FRANCISCA DO LIVRAMENTO?
Nobre, e singular flor, que clausurada
No jardim da Esperança deste a vida,
Que muito sejas por santa aplaudida,
Se nas virtudes foste consumada;
Lá no Império serás mais celebrada,
Do que na terra foste conhecida,
Nesta quanto por humilde abatida,
Naquele te verás tão sublimada:
Com admiração fatal de toda a ilha
Milagrosos aromas espargiste,
Logo que lá no Céu te transplantaste;
Sendo entre todas grande a maravilha,
Que fizeste, pois logo conseguiste
Água dar, com que a terra regalaste.
No dia 3 Dezembro de 1650, ano santo, porque era de jubileu, nascia na Matriz da vila de Ponta Delgada, Francisca do Livramento, sendo baptizada no dia 7 do mesmo mês. Tanto o dia, o mês e o ano do seu nascimento e do baptismo, são um grande presságio da sua virtude e um evidente prognóstico da sua bondade. Quis Deus mostrar ao mundo, que no mesmo tempo em que nascia Francisca, nascia com ela a formosura e a bondade: a bondade das virtudes, em que se havia de exercitar; e a formosura da graça em que havia de permanecer. Não houve momento algum da sua vida, que não se desse a Deus, porque de Deus foi todo o tempo, desde a primavera dos anos até ao Outono da velhice.

Filha do Capitão Pedro Barbosa da Silva e de Águeda Albernaz, provinha de família rica e da mais alta estirpe da Ilha.
Sendo órfã de mãe, a sua educação esteve entregue aos cuidados de uma tia.
Contra a vontade dos seus familiares, Francisca deu entrada no Convento da Esperança ainda jovem, com apenas 13 anos de idade. Mas a maior resistência à sua entrada no Convento, encontrou em seu tio materno, o Padre João Alves Nordelho, que a queria para sua companhia na quinta onde vivia, onde tinha uma ermida dedicada a Nossa Senhora do Livramento, no Rosto do Cão (S. Roque).
Sendo praticamente desconhecida, não poderemos deixar de dar a conhecer a sua exemplar vida religiosa, assente na oração, penitência, jejuns e mortificações, mas também os muitos prodígios obrados por sua intercessão, quer em vida, quer depois de morta, testemunhados por quantos com ela conviveram.
Com o passar dos anos, foi-se diluindo a recordação dos prodígios desta Venerável Madre, acabando por se desvanecer na memória o que foi a sua vida e que tanta exaltação e entusiasmo fizeram vibrar, emocionada, toda a população da ilha.

Madre Francisca do Livramento faleceu com 76 anos, no dia 4 de Abril de 1726, com fama de santidade.
Os seus restos mortais encontram-se num nicho, numa urna, no coro baixo do Convento da Esperança.